Ele saiu batendo a porta. Ela, imóvel,
ficou olhando pela janela do apartamento. Viu quando ele tomou um táxi .. Para
onde ia? Provavelmente voltaria para a casa dos pais, daria um tempo antes de
arranjar outro lugar para curtir sua repentina solteirice.
Os dois viviam às turras ultimamente.
Ele foi e voltou várias vezes. Agora era definitivo. O fim previsível. Um ciclo
que se encerrava. Como chegaram a esse ponto? Não saberia mais dizer... O
começo foi tão promissor, pareciam feitos um para o outro. Os mesmos gostos, a
mesma profissão: corretor de imóveis. Amigos comuns... Talvez a monotonia
tivesse alguma coisa a ver com esse final. Concordância de mais às vezes
cansa...
Mulher bonita. Um corpo de entortar
pescoços, morena clara, olhos quase verdes. Boca carnuda, modos finos... Ele a
notou imediatamente numa feira de imóveis lá para os lados da Barra da Tijuca.
Ela também reparou nele. Homem bem vestido. Com olhos de peixe morto que não
paravam de segui-la no meio da confusão de pessoas em busca da casa própria. Um
mês depois estavam morando juntos no apartamento dela, herança de família.
A primeira briga foi banal. Ele queria
sair, encontrar amigos. Beber um pouco. Ela estava cansada, foi um dia duro de
trabalho. Vários clientes, muitos imóveis para mostrar. Melhor ficar em casa,
curtir um filme na TV a cabo e dormir abraçados. Amanhã seria outro dia... Ele
não gostou, fez manha, discutiu e brigaram. Na semana seguinte, outra briga
cujo motivo se perdeu na insignificância... E outra, mais outra, muitas.
Tolices que viraram uma avalanche de desentendimentos.
Um ano após a separação, se
encontraram novamente em outra feira na Penha, próximo à Avenida Brasil. Não se
falaram. Ela estava acompanhada, bonita como sempre e reparou quando um par de
olhos a seguiram até sumirem no tumulto de um dia quente...